Eis que entro
naquela sala. As paredes eram todas pretas, formando assim, um quadrado negro.
Um luto artístico.
No canto da
sala, sentada em uma cadeira, com um sorriso familiar, vi a professora.
Todos,
absolutamente todos, tiram primeiras impressões. É algo natural do ser humano,
e eu claramente tive a minha quando a vi.
Ela me
lembrava um familiar. Não sei se foi o sorriso de conforto no momento de
entrada, ou as sobrancelhas cerradas no período em que os alunos atrasados
chegavam, mas ela me lembrava... Família.
E foi
exatamente sobre isso a aula. O que me fez pensar por um minuto que ela havia
lido a minha mente. Isso me assustou.
Formamos uma
roda em volta dela, ela continuou sentada naquela cadeira, toda vestida de
preto, que a cada minuto, se tornava mais natural para mim.
Ela nos
passou uma atividade. Mandou-nos olhar em volta e escolher alguém, levantar-se
e convidar o parceiro para conversar afastados do círculo. Era uma escolha
cuidadosa.
Aquilo era
incômodo para mim, não tenho o costume de praticar jogos com desconhecidos, era
desconfortável.
Olhei para a
minha colega do lado. Ofereci as minhas mãos a ela, que aceitou. Nos afastamos
do grupo, fomos as primeiras a iniciar a engrenagem.
Sentei com
ela e começamos a falar... Sobre nós, sobre nossas famílias, sobre sonhos. Era
como se eu estivesse abrindo o meu diário para uma pessoa que eu mal conhecia.
Era, não. Eu estava fazendo isso. E ela o
mesmo. Aquele exercício me fez lembrar familiares antigos. De pessoas na qual
eu não pensava com tanta freqüência, me fez sentir nostálgica.
Lágrimas
caíram de ambas. Acho que encontrei uma parceira tão sensível quanto eu. Ótimo,
não me senti envergonhada em chorar.
Depois de um
bom tempo de conversa, Wlad nos reuniu novamente em roda e nos deu outra
atividade. O objetivo era levantar, ir até o meio da sala, com todos os colegas
assistindo, falar sobre a sua árvore genealógica e contar sobre seus familiares
e a casa que mais o lembrava como uma “base familiar”.
Eu não sou
uma pessoa que tem dificuldades de falar em público, mas assumo, que quando vi
aquele Elenco e a Wlad ali, esperando que eu começasse a minha história, me deu
certo nervosismo. Bastante para ser honesta.
Falei de
todos. De minha avó que é o meu grande exemplo, de todos os seus filhos, e de
meus primos, e quando vi a turma, já estavam rindo comigo das histórias cômicas
que havia na minha família, segundo Wlad, “como em qualquer família
Brasileira”.
Percebi
naquele momento, que uma família estava sendo formada diante dos meus olhos.
Trinta pessoas, reunidas naquela sala negra, ansiando por melhoras de vida, de
profissão, de sonhos. E aquela professora estava lá para auxiliar a isso. Pode
ser que a maioria não veja dessa forma, mas para mim, naquela sala escura,
naquela Segunda, eu tenha ganhado uma nova família.