quinta-feira, 15 de março de 2012

O início.


Eis que entro naquela sala. As paredes eram todas pretas, formando assim, um quadrado negro. Um luto artístico.
No canto da sala, sentada em uma cadeira, com um sorriso familiar, vi a professora.
Todos, absolutamente todos, tiram primeiras impressões. É algo natural do ser humano, e eu claramente tive a minha quando a vi.
Ela me lembrava um familiar. Não sei se foi o sorriso de conforto no momento de entrada, ou as sobrancelhas cerradas no período em que os alunos atrasados chegavam, mas ela me lembrava... Família.
E foi exatamente sobre isso a aula. O que me fez pensar por um minuto que ela havia lido a minha mente. Isso me assustou.
Formamos uma roda em volta dela, ela continuou sentada naquela cadeira, toda vestida de preto, que a cada minuto, se tornava mais natural para mim.
Ela nos passou uma atividade. Mandou-nos olhar em volta e escolher alguém, levantar-se e convidar o parceiro para conversar afastados do círculo. Era uma escolha cuidadosa.
Aquilo era incômodo para mim, não tenho o costume de praticar jogos com desconhecidos, era desconfortável.
Olhei para a minha colega do lado. Ofereci as minhas mãos a ela, que aceitou. Nos afastamos do grupo, fomos as primeiras a iniciar a engrenagem.
Sentei com ela e começamos a falar... Sobre nós, sobre nossas famílias, sobre sonhos. Era como se eu estivesse abrindo o meu diário para uma pessoa que eu mal conhecia.
 Era, não. Eu estava fazendo isso. E ela o mesmo. Aquele exercício me fez lembrar familiares antigos. De pessoas na qual eu não pensava com tanta freqüência, me fez sentir nostálgica.
Lágrimas caíram de ambas. Acho que encontrei uma parceira tão sensível quanto eu. Ótimo, não me senti envergonhada em chorar.
Depois de um bom tempo de conversa, Wlad nos reuniu novamente em roda e nos deu outra atividade. O objetivo era levantar, ir até o meio da sala, com todos os colegas assistindo, falar sobre a sua árvore genealógica e contar sobre seus familiares e a casa que mais o lembrava como uma “base familiar”.
Eu não sou uma pessoa que tem dificuldades de falar em público, mas assumo, que quando vi aquele Elenco e a Wlad ali, esperando que eu começasse a minha história, me deu certo nervosismo. Bastante para ser honesta.
Falei de todos. De minha avó que é o meu grande exemplo, de todos os seus filhos, e de meus primos, e quando vi a turma, já estavam rindo comigo das histórias cômicas que havia na minha família, segundo Wlad, “como em qualquer família Brasileira”.
Percebi naquele momento, que uma família estava sendo formada diante dos meus olhos. Trinta pessoas, reunidas naquela sala negra, ansiando por melhoras de vida, de profissão, de sonhos. E aquela professora estava lá para auxiliar a isso. Pode ser que a maioria não veja dessa forma, mas para mim, naquela sala escura, naquela Segunda, eu tenha ganhado uma nova família.

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